roma
Roma. Alfonso Cuáron tem uma qualidade rara no cinema: não tem pressa, mas cumpre na hora de nos dar algo tão simples quanto sensível e poderoso. Os seus filmes têm pequenos momentos raros que 'fazem o filme' e dão dimensão a tudo o que vimos antes. A sua realização não tem medo de experimentar, em Roma, há pouco planos aproximados e vivemos algo distantes, com raras e especiais excepções. Mais: acompanhamos uma empregada de limpeza mexicana como um paparazzo que a segue quase sempre de forma lateral. Há poucos cortes (aparentes) mas, ainda assim, há sempre uma boa sensação de ritmo que nos mantém em cena e interessados (filmes tugas de autor tirem notas). E depois há os momentos stressantes ou puramente especiais, onde se revelam os sentimentos e que nos dão tanto das personagens como de nós mesmos (cada pessoa vai sentir o filme de forma bem diferente, dependendo da vida que tem e do momento em que está - o mesmo acontece com pérolas como Boyhood). Por isso é tão bom ver Roma, mesmo que quem vir 30 minutos ou uma hora, não vai perceber da missa metade e mesmo que não seja um filme perfeito ou sempre intenso. Os momentos chave? A cena do telhado em que criança e 'criada' se deitam, fingindo estarem mortos; a cena da violência + a fuga para o hospital; mas o auge é o nascimento da criança e, mais tarde, o salvamento dos miúdos impertinentes e consequente expulsar de demónios que a atormentavam. Há tanto sumo emocional e humano no filme de Cuáron, mesmo que em boa parte do filme estejamos apenas a beber aos poucos aquela realidade tão diferente da nossa. Obrigado, siñor Cuáron.